quarta-feira, 24 de abril de 2024

26/04/2024-Sextaf Da IV Semana Da Páscoa

A FÉ PROFUNDA TORNA NOSSO CORAÇÃO SERENO

Sexta-Feira da IV Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 13,26-33

Naqueles dias, tendo chegado a Antioquia da Pisídia, Paulo disse na sinagoga: 26 “Irmãos, descendentes de Abraão, e todos vós que temeis a Deus, a nós foi enviada esta mensagem de salvação. 27 Os habitantes de Jerusalém e seus chefes não reconheceram a Jesus e, ao condená-lo, cumpriram as profecias que se leem todos os sábados. 28 Embora não encontrassem nenhum motivo para a sua condenação, pediram a Pilatos que fosse morto. 29 Depois de realizarem tudo o que a Escritura diz a respeito de Jesus, eles o tiraram da cruz e o puseram num túmulo. 30 Mas Deus o ressuscitou dos mortos 31 e, durante muitos dias, ele foi visto por aqueles que o acompanharam desde a Galileia até Jerusalém. Agora eles são testemunhas de Jesus diante do povo. 32 Por isso, nós vos anunciamos este Evangelho: a promessa que Deus fez aos antepassados, 33 ele a cumpriu para nós, seus filhos, quando ressuscitou Jesus, como está escrito no salmo segundo: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei”.

Evangelho: Jo 14,1-6

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 1 “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus, tende fé em mim também. 2Na casa de meu Pai, há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós, 3e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais também vós. 4E para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. 5Tomé disse a Jesus: “Senhor, nós não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” 6Jesus respondeu: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.

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Deus É Soberano No Cumprimento De Seu Plano Para Salvar a Humanidade

Nós vos anunciamos este Evangelho: a promessa que Deus fez aos antepassados, ele a cumpriu para nós, seus filhos, quando ressuscitou Jesus, como está escrito no salmo segundo: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei”. 

O texto da Primeira Leitura é a continuação do discurso/pregação de Paulo em Antioquia de Pisídia numa Sinagoga num dia de Sábado ou  asegunda parte da pregação de Paulo na sinagoga em Antioquia de Pisídia. Nessa pregação (discurso) Paulo mostra para os ouvintes que Jesus é o descendente de Davi prometido  e isto se comprova na sua morte, na sua ressurreição e na sua exaltação como Messias prometido.

Neste discurso Paulo coloca a culpabilidade sobre os habitantes de Jerusalém e os seus chefes sobre a morte cruel de Jesus na cruz. Eles quiseram a morte de Jesus mesmo sendo inocente, e usaram Pilatos como instrumento para realizar sua maldade de eliminar (matar) Jesus da vida. A covardia de Pilatos em libertar o inocente Jesus cede à pressão da população e dos chefes para acabar com a vida de Jesus.  Mas por incrível que pareça, em vez de impedir o plano de Deus em constituir Jesus como o verdadeiro Messias, eles contribuíram para realizar o plano de Deus. Se eles mataram o Messias Jesus, o Inocente, Deus restituiu a vida a Jesus. Jesus foi ressuscitado. 

No seu discurso, Paulo não somente enfatiza a ressurreição de Jesus, mas ele também fala das aparições de Jesus para os apóstolos. Essas aparições são base do testemunho dos Apóstolos. Os apóstolos são as testemunhas tanto de tudo que Jesus fez e disse na Galileia durante sua vida pública como da sua ressurreição pelas aparições. Os apóstolos são testemunhas do Cristo ressuscitado. Tudo isso motiva os Apóstolos a dar testemunho para o resto do mundo sem medo da prisão e da morte como consequência. 

A coragem dos Apóstolos em testemunhar Jesus Ressuscitado que garante o futuro da humanidade, e do cristianismo, isto é, que os homens fieis à Palavra de Deus não estão caminhando para o nada e sim para o futuro de Deus que já começou no presente na vivencia da Palavra de Deus, nos faz pensarmos na responsabilidade de cada cristão, seja praticante, seja menos praticante. 

Em geral, os cristãos se reúnem na assembleia para se alimentar da Palavra de Deus e do Corpo e Sangue do Senhor na Eucaristia para que possam começar a viver uma vida ressuscitada. Mas será que a vida dos cristãos traz alguma coisa boa para o bem do mundo ao seu redor a exemplo de Jesus que passou a vida fazendo o bem? Os que leem e decoram, ouvem e meditam a Palavra de Deus contribuíram alguma coisa para melhorar o mundo ao seu redor onde moram e trabalham? Será que usamos os outros como instrumentos para eliminar alguém de uma função, de uma missão, de um trabalho porque ele está nos impedindo de ceder o lugar que queremos ocupar? 

Através da Primeira Leitura de hoje Deus quer nos deixar um recado muito forte: um inocente, um justo, um honesto pode ser eliminado pela mão humana em nome dos interesse egoístas, em nome do poder, em nome do dinheiro, mas com os braços abertos Deus o acolhe e o glorifica (ressuscitar). Alguém pode enterrar a  verdade, a bondade, o bem, o amor, a honestidade, a justiça, porém eles não permanecem na terra, pois ressuscitam como Jesus ressuscitou. Não tenhamos medo de ser justos, amorosos, honestos, bondosos e assim por diante, pois estes valores são valores humanos e divinos que serão reconhecidos por Deus. Um maldoso, um injusto, um desonesto, um corrupto da vida alheia, se não se converter, acabará não vendo Deus (fica fora da salvação), pois Deus é o Bem Superior, por excelência. São Paulo nos relembra que um dia “teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo” (2Cor 5,10).

Não é por acaso que no texto do Evangelho de hoje Jesus se apresenta para todos nós como o único Caminho que leva à verdadeira vida. Diante de um mundo desconcertado e perdido, diante das religiões que se brigam entre si em nome do próprio interesse e não em nome do bem comum, diante de um mundo que está em busca de ideologias e messias e felicidades, Jesus é a resposta de Deus, pois Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). 

A Fé Em Jesus Nos Traz Uma Paz Profunda Que Vem Do Alto

Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. 

Os capítulos 13 a 17 do evangelho de João constituem um “Discurso de despedida” de Jesus. Como os patriarcas do AT e outros grandes personagens ao saber de sua morte iminente se despedem de sua família fazendo recomendações importantes para eles (cf. Gn 49,1-28; 50,24-25; Dt 33; 1Rs 2,-9 etc.), assim também Jesus faz a mesma coisa para seus discípulos. Nestes capítulos encontramos vários ensinamentos de Jesus para quem quiser segui-lo.

Na última Ceia os discípulos estavam tristes e desorientados ao saber da despedida do seu Mestre que iria morrer. Por isso, antes de passar deste mundo ao Pai Jesus diz no texto do evangelho deste dia: “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. Segundo a concepção do AT, a fé é um apoiar-se do homem no fundamento vital divino que lhe confere vida e existência; um entregar-se sem reservas, e confiado na promessa, bondade e lealdade de Deus. Justamente neste sentido não é possível crer em tudo. Ou o homem crê em Deus ou crê em nada que terminará no nada. Evidentemente não é possível crer em nada do mundo, e sim somente em Deus, pois só Deus, o Criador do universo, é capaz de responder aos anseios profundos do homem.       

Qual é a maior mensagem de consolo ou de esperança que Jesus oferece aos discípulos e a todos nós através do evangelho de hoje? É o convite para viver a fé: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus e tende fé em mim também” (v.1). “Ter fé em Deus” e “ter fé em Jesus” não se trata de dois tipos de fé. Mas trata-se de uma só e única fé. No capítulo anterior Jesus já disse: “Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas em quem me enviou...” (Jo 12,44). E na primeira carta de São João temos esta ideia expressa negativamente: “Todo aquele que nega o Filho também não possui o Pai. O que confessa o Filho também possui o Pai” (1Jo 2,23).          

Em segundo lugar, a exortação que Jesus dirige aos discípulos para que tenham fé nele é algo mais que uma petição de um voto de confiança. A fé é a força que supera tudo, pois a fé é um dom que vem do Alto. A fé é capaz de vencer o mundo: “Esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4). “Mundo” aqui significa tudo que se opõe ao plano ou à vontade de Deus. A verdadeira fé em Deus é capaz de vencer as influências nefastas do mundo, pois quem se mantém na profissão da verdadeira fé vive no mundo de Deus, e Deus está por cima do mundo. Por isso, mais tarde Jesus dirá aos discípulos: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33). Para que possamos vencer o mundo como Jesus o venceu, temos que nos unir a Jesus, ou temos que ter fé nele. O mundo pode seduzir qualquer cristão, mas não tem poder de decidir sobre a vida do cristão. Quem pode decidir é o próprio cristão para aceitar ou recusar tal sedução. “Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima das vossas forças. Mas, com a tentação, Ele vos dará os meios de sair dela e a força para suportar” (1Cor 10,13b). Basta permanecer unido a Jesus Cristo.          

Em terceiro lugar, ao dizer “não se perturbe o vosso coração, mas tendes fé em Deus e em mim também”, Jesus quer nos mostrar outra função ou outro efeito da fé é o coração sereno, coração cheio de paz. Quanto mais profunda for nossa fé em Deus, mais sereno se tornará nosso coração. Enquanto nosso coração não estiver em paz, nossa mente se tornará perturbadora para nosso cotidiano.          

Hoje como em qualquer momento Jesus diz a cada um de nós: “Não perca sua calma. Acredite em Deus. Acredite em mim. Eu estou perto de você, dentro de você, em teu coração. Feche seus olhos, entre dentro de tua alma, tome minha mão, eu estou com você”. Jesus é o nosso bom companheiro que nos acompanha mesmo que estejamos rodeados pelas dificuldades. “Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. Precisamos ouvir estas palavras permanentemente. Ao dizer isso Jesus quer nos dizer que nosso Deus não é indiferente nem frio, e sim um Deus sensível aos nossos anseios e aos nossos sofrimentos. Mas Jesus pede um ato de fé em sua pessoa, uma fé sem reserva. A paz profunda que supera toda perturbação vem da fé. 

Não se perturbe o vosso coração. Tende fé em Deus e tende fé em mim também”. A verdadeira fé em Deus sempre resulta em ter um coração sereno e pacífico, porque a fé é participação na vida divina, adesão a Deus como único Senhor, o apoiar-se total e exclusivamente em Deus. A fé consiste em nos alicerçamos unicamente em Deus, no seu poder infinito e no seu infinito amor. O poder de Deus e seu amor não estão sujeitos a qualquer manipulação humana. Não há outro caminho para alcançar a paz e a serenidade do coração senão o caminho do pleno abandono à vontade de Deus, isto é, ao seu amor infinito. A palavra “abandono” significa a renúncia aos planos e idéias próprios. Santa Teresa do Menino Jesus dizia: “Tem que ser como uma criança e não se preocupar com nada” (Conselhos e Lembranças). Nesta curta frase está contido todo um programa. Abandonar-se significa não se preocupar com nada, porque Deus nos ama e de tudo se ocupa. Somente quando isso acontecer, o nosso coração poderá começar a se impregnado da verdadeira paz. Não podemos nos desfazer dos perigos que geram o medo, mas é muito importante eliminar esse medo através de um ato consciente de abandono ao Senhor.         

Quando São Paulo suplicou a Jesus que afastasse da sua vida uma grande dificuldade, algo que contrariava os seus planos, o Senhor respondeu-lhe: “Basta-te a Minha graça porque é na fraqueza que a Minha força se revela totalmente” (cf. 2Cor 12,9). E Santa Teresa escreveu: “A confiança e a fé se aperfeiçoam na angústia”. E Para a Santa Margarida Maria Alacoque, a grande apóstola do coração de Jesus, o Senhor disse com grande ardor: “Deixa-Me agir”. Uma abertura de nosso coração permite ao Senhor viver em nós em toda a Sua plenitude. Quando assim for, poderá Ele fazer de nós a Sua obra-prima. O abandono a Deus é a suprema forma de confiança e de apoio no Senhor.           

A ausência desta fé suscita a angústia e o pavor. Quando confiarmos apenas nas nossas forças, quando contarmos apenas com as nossas capacidades, com aquilo que possuímos ou somente com as relações que mantemos com as pessoas com as quais estamos ligados, mais cedo ou mais tarde ficaremos desiludidos. A confiança total em Deus nascida da nossa fé na Sua Palavra é a única resposta adequada ao Seu insondável amor por nós. 

Para onde eu vou, vós conheceis o caminho”. O caminho para o Pai é a prática do amor fraterno. Jesus é o Filho, mas os que o seguem serão também filhos, irmãos de Jesus. Para isso, os que seguem a Jesus precisam praticar o amor fraterno para fazer parte da família de Deus. 

Todo homem, em sua vida, segue um caminho ou outro. Todo homem busca, em sua vida, encontrar a verdade. Todo homem deseja, que sua vida não termine para sempre. Para estes três anseios profundos do homem é que o próprio Jesus é uma resposta precisa, pois Ele próprio é o Caminho, a Verdade e a Vida. Nele e em viver a vida como Ele a viveu está a resposta para as interrogações e buscas do homem. O Caminho a seguir, a Verdade a defender, a Vida que não se perde estão ao alcance de nossa vida. Aceitar Jesus ou recusá-Lo é coisa nossa com suas consequências para nossa vida e salvação. 

JESUS É O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA

Neste texto Jesus se autorevela como “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (v.6). Como e onde é que Jesus se torna para nós o Caminho para irmos ao Pai, a Verdade que ilumina o sentido da nossa vida, a própria vida do nosso viver, e a Vida em plenitude? 

1. JESUS É O CAMINHO          

De acordo com o Antigo Testamento, a Lei era o caminho, a verdade e a vida para o povo. Praticando a Lei, as pessoas acreditavam poder chegar a Deus (Caminho), pois sentiam que nela Deus comunicava seu projeto e caminhava fielmente com o povo aliado (Verdade), conduzindo-o à posse da promessa (Vida).          

Para o Evangelho de João e para todos nós cristãos, o caminho não é mais a Lei, mas é uma Pessoa: Jesus Cristo. Jesus é o único Caminho; existindo desde sempre em Deus (Jo1,1), ele se tornou um de nós (Jo 1,14). Sua vida e sua prática conduzem a humanidade ao encontro definitivo com Deus. Ele é o Caminho para o Pai porque na sua pessoa nos revela Deus, e no exemplo da sua vida e na luz da sua palavra nos mostra o itinerário a seguir para a nossa realização definitiva como filhos de Deus e irmãos dos homens. Para conhecer o caminho e encontrar sua trajetória certa que conduz à vida basta olhar para Jesus e sua prática.          

Jesus é o Caminho, verdadeiro caminho que conduz à vida, caminho vivo que nos abra à verdade. Ele é o Caminho para o Pai porque na Sua pessoa nos revela Deus e no exemplo da sua vida e na luz da Sua palavra nos mostra o itinerário a seguir para a nossa realização definitiva como filhos e filhas de Deus e irmãos dos homens. Ele é o Caminho que caminha conosco.

Para conhecer o caminho e divisar sua trajetória que conduz à vida, basta olhar para Jesus Cristo. O que se vê nele é o caminho. Jesus é o nosso Caminho a trilhar.          

“Caminho” na Bíblia, significa muitas vezes o modo de proceder, a prática de vida, o modo de ser. Jesus é o Caminho. Ao aceitar Jesus como o Caminho devemos pautar a nossa vida à dele, devemos viver a prática dele que é o serviço de amor. Fora do amor, não há salvação.

2. JESUS É A VERDADE          

Filosoficamente a verdade se define como conformidade da inteligência com seu objeto (adaequatio intellectus ad rem) ou conformidade da coisa com a inteligência (adaequatio rei ad intellectum).          

Para a Bíblia a verdade é o termo que designa a fidelidade e a confiança em alguém. A verdade é, então, uma relação interpessoal que se experimenta ao longo de uma história. O contrário da verdade é a ruptura de um vínculo de confiança que perdurava no tempo.          

Designando Jesus como a Verdade, a fé pascal pretende indicar que em Jesus apareceu a fidelidade de Deus, de uma vez para sempre e que esta fidelidade será estendida a todos os momentos do tempo pelo poder do “Espírito da Verdade”.          

Jesus é a Verdade em virtude de nele residir plenamente a realidade divina e que realizou nele a plenitude da realidade humana. Com sua atividade em favor do homem (Jo 10,37s), que manifesta o amor de Deus, revela ao mesmo tempo a verdade sobre Deus e sobre o homem. A verdade é, por isso, a lealdade absoluta de Deus frente aos homens, de maneira que o homem pode confiar cegamente na sua palavra, na sua promessa, na sua lealdade. 

O homem que confia na palavra e na revelação divina e que conta com ela na vida prática, vivendo segundo a verdade com fé, torna-se participante da verdade de Deus. Jesus é a Verdade no meio da mentira do mundo, porque ele é a revelação exata do Pai. 

3. JESUS É A VIDA          

No que se trata do termo “Vida” (Eu sou a Vida), no evangelho de João este termo tem um significado inesgotável. Jesus, que recebe a plenitude do Espírito (Jo 1,32s), possui a plenitude da vida divina e dispõe dela, como o Pai (Jo 5,21.26; 17,2). A missão de Jesus é comunicar vida ao homem e vida em abundância (Jo 10,10), vida definitiva e indestrutível (Jo 10,28;17,2). Por isso, Jesus é a Vida porque a possui em plenitude e pode comunicá-la para quem acredita nele. Ele é a Vida em plenitude e sem fim num mundo de morte e autodestruição, e, por isso, podemos entrar em comunhão com o Deus vivo através dele.          

A condição para receber a vida definitiva e indestrutível e possui-la definitivamente é a adesão a Jesus em sua condição de Homem levantado ao alto (Jo 3,14s) e de Filho único de Deus (Jo 13,16). O Homem levantado ao alto é o modelo de homem que dá sua vida a fim de salvar os homens da morte (Jo 3,14). E Jesus é o Filho único de Deus, o dom que prova o amor de Deus para com a humanidade (Jo 3,16). A condição para receber a vida é, por isso, reconhecer o amor de Deus manifestado na morte de Jesus e, vendo nele o modelo de Homem, o Filho único de Deus, tomar este amor por norma da própria vida (Jo 13,34). A adesão a Jesus e à sua prática em favor da vida faz com quem as pessoas se tornem filhas de Deus, formando só uma família com Jesus e o Pai. Para conhecer o Pai e para chegar até Ele faz-se necessário comprometer-se com a prática do Filho.          

Aceitar Jesus Cristo como a Vida nos leva a defendermos e protegermos a vida em todas as suas dimensões e seus setores, inclusive em algo tão relativo como a saúde. Por isso, a salvação se chama também “Salus” o que exige previamente uma cura. Não somente acreditamos em Deus, mas a questão fundamental é crer no Deus da vida. Por isso, muito mais que um problema moral, a salvação é um problema vital que tem a ver com a vida. Aceitar Jesus como a Vida nos leva a não desvalorizarmos a própria vida e a vida alheia. Neste sentido o cristão é o defensor da vida em todas as suas dimensões, pois ele acredita no Deus da vida. Somente assim poderemos dizer e acreditar que Jesus é a Vida.          

Esta aceitação e adesão encontra-se no evangelho de João com várias expressões: escutar a voz do Filho de Deus(Jo 5,25), aproximar-se dele(Jo 6,37ss), aceitar as suas exigências(Jo 6,63.68), comer o pão da vida(Jo 6,35,53s), comer a sua carne e bebe o seu sangue(Jo 6,45), viver seu mandamento(Jo 15,12) etc..          

Por isso, a esta altura, o Evangelho já aponta para a missão de cada cristão, aquele que segue Jesus Cristo: estar a serviço da vida, doando-se totalmente para que a vida aconteça. A prova de que amamos Jesus é amar os outros e dar a vida pela vida dos homens.

P. Vitus Gustama,svd

terça-feira, 23 de abril de 2024

São Marcos Evangelista, 25/04/2024

SÃO MARCOS, EVANGELISTA 

25 de Abril

Primeira Leitura: 1Pd 5,5b-14

Caríssimos, 5b revesti-vos todos de humildade no relacionamento mútuo, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes. 6Rebaixai-vos, pois, humildemente, sob a poderosa mão de Deus, para que, na hora oportuna, ele vos exalte. 7Lançai sobre ele toda a vossa preocupação, pois ele é quem cuida de vós. 8Sede sóbrios e vigilantes. O vosso adversário, o diabo, rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar. 9Resisti-lhe, firmes na fé, certos de que iguais sofrimentos atingem também os vossos irmãos pelo mundo afora. 10Depois de terdes sofrido um pouco, o Deus de toda a graça, que vos chamou para a sua glória eterna, em Cristo, vos restabelecerá e vos tornará firmes, fortes e seguros. 11A ele pertence o poder, pelos séculos dos séculos. Amém. 12Por meio de Silvano, que considero um irmão fiel junto de vós, envio-vos esta breve carta, para vos exortar e para atestar que esta é a verdadeira graça de Deus, na qual estais firmes. 13A igreja que está em Babilônia, eleita como vós, vos saúda, como também, Marcos, o meu filho. 14Saudai-vos uns aos outros com o abraço do amor fraterno. A paz esteja com todos vós que estais em Cristo.

Evangelho: Mc 16,15-20

Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15 e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16 Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 19 Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. 20 Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.

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Marcos inicia o seu Evangelho falando de João Batista, a voz que clama no deserto (Cf. Mc 1,1-25). O símbolo do Evangelho de Marcos é um leão alado, representando as feras que habitam o deserto. É a dimensão da força, realeza, poder, autoridade do Filho de Deus. São Marcos é representado pelo leão, porque ele começa seu Evangelho falando da pregação de São João Batista no deserto da Judéia. Ora, o leão vivia no deserto, e a pregação de João foi como um rugido de leão. Ele quer mostrar Cristo como soberano, como rei. E o leão é o rei dos animais.

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Celebramos no dia 25 de Abril a festa do evangelista Marcos que escreveu um evangelho mais curto do que os demais evangelhos. Ele é conhecido como João Marcos: o primeiro nome (João) é hebraico e o segundo (Marcos) é romano. Ele era primo de Barnabé (Cl 4,10), de família levita (At 4,36). Acompanhou o Apóstolo Paulo e Barnabé (At 12,25; 13,5) e depois separou-se deles (At 13,13) e isso parece ter irritado Paulo, então Marcos e Barnabé foram para Chipre (At 15,36-39). Mas na prisão de Paulo está com ele novamente (Cl 4,10), que o cita entre os “seus colaboradores” (Fm 14) e o Apóstolo pede sua ajuda antes de morrer (2Tm 4,11). Foi também companheiro de Pedro, que o chamava de “meu filho” (1Pd 5,13). Alguns afirmam que o Evangelho de Marcos é o resumo da Catequese de Pedro.

O evangelho de Marcos é o mais curto dos quatro evangelhos. Ele possui somente 16 capítulos (1,1-16,8). Mc 16,9-20 é um apêndice acrescentado posteriormente e há indícios de que esse apêndice surgiu a partir do ano 150. É um Evangelho onde todas as palavras são importantes. Marcos é preciso e muito objetivo. Encontramos algumas ausências. Em Mc não temos a genealogia e a infância de Jesus, nem o Pai Nosso e as Bem-aventuranças. As tentações estão resumidas (1,13).

Através de seu evangelho Marcos quer responder à pergunta: Quem é Jesus?  Logo no inicio de seu evangelho Marcos respondeu: Evangelho de Jesus, Messias e Filho de Deus (Mc 1,1). A partir destes dois títulos é que o evangelho de Marcos é dividido em duas grandes partes. Primeira parte: Mc 1,1-8,30. Nessa primeira parte fala-se do messianismo de Jesus e do Reino de Deus. Segunda parte: Mc 8,31-16,8 fala da filiação divina de Jesus e da paixão e morte de Jesus.

Marcos nos apresenta que Jesus é o Messias, o Ungido, e por isso, sua palavra está cheia de autoridade. “Ele ensina como quem tem autoridade e não como os escribas”, dizia o povo (Mc 1,22). As palavras de Jesus estão cheias de autoridade porque elas fazem crescer as pessoas e despertam consciência crítica sobre a realidade. Se alguém quer saber quanta autoridade tem, não se pergunte a quantos ele submete e sim a quantos ele ajuda a crescer. O servilismo de seus súditos mostra o autoritarismo de seu líder. Um líder que ama, é respeitado. Mas um líder temido não é respeitado. A força de quem tem autoridade não está em seu poder e sim em seu amor. Uma pessoa que apela ao poder para afirmar ou firmar sua autoridade, ela desautoriza a si mesma como pessoa, muitas mais ainda como líder e mostra que ela não tem mais autoridade. Um leão não tem autoridade na selva, embora tenha força para se impor. (O evangelho de Marcos tem como símbolo LEÃO, pois Marcos apresenta a figura de João Batista como a VOZ que clama no deserto semelhante ao rugir de leão).

Jesus é também apresentado por Marcos como o Filho de Deus, título que Marcos colocou logo no inicio de seu evangelho (Mc 1,1) e no fim, ao colocá-lo na boca de um centurião romano vendo Jesus crucificado na cruz. “Este homem era realmente o Filho de Deus” (Mc 15,39), confessou o centurião. Trata-se da confissão de um pagão que reconhece a divindade de Jesus Cristo. Um coração puro, como o do centurião, nos ajuda a termos um olhar puro para perceber algo divino na nossa vida e nos outros. Nãopoema mais belo do que viver com um coração imaculado e um olhar puro.

Mas para Marcos o Filho de Deus não era uma figura triunfal, pois dentro da dura realidade da vida da sua época Jesus fez opções radicais que o envolviam em perseguições e conflitos com as autoridades que o levaram à morte na cruz. Mas somente por essas opções radicais é que Jesus entrou na glória de Deus. Por isso, a cruz de Jesus sempre derrama uma luz sobre o mistério do sofrimento. Um cristão que é fiel ao Senhor e aos Seus ensinamentos sofrerá conflitos e perseguições. Em cada provação e perseguição, pequena ou grande, o cristão fiel contempla o que Cristo sofreu nas mesmas circunstâncias.  Dessa maneira, o sofrimento do cristão se confunde com o de Cristo e ele n’Ele. Dentro deste contexto, o sofrimento se torna um instrumento de redenção e de santificação. Neste sentido, os momentos de perseguição e de provas são os momentos do trabalho fecundo. Sofrer por uma causa digna é uma vitória em Deus.

Esses dois títulos: Jesus é o Messias, o Ungido e Jesus é o Filho (amado) de Deus formam o evangelho de Marcos. É claro que ainda tem outros títulos dados a Jesus pelo evangelista Marcos como o Filho de Davi, o Filho do Homem, Mestre, Santo de Deus, Senhor do Sábado e assim por diante.

Então, quer ser discípulo de Jesus? Leia o Evangelho de Marcos. Quer ter experiência de Jesus? Medite o Evangelho de Marcos. Quer ser verdadeiro testemunha de Jesus? Aprofunde o Evangelho de Marcos e mergulhe nele. 

Duas coisas ficam claras desde o princípio: Primeiro, a importância de conhecer Jesus. Segundo, a necessidade de estar com Jesus longamente, de ter experiência dele para ser uma verdadeira testemunha sua e para sentir que os horizontes da própria vida se alargam até o infinito.

Conhecer Jesus, biblicamente, significa fazer experiência dele, sentir como a própria vida ao entrar pouco a pouco em sintonia com Sua vida a ponto de fazer próprias Suas exigências, seus ideais até descobrir a amizade verdadeira e profunda que consiste em viver juntos para olhar juntos para o futuro para construir juntos um mundo novo no qual cada um é para os demais e não para si mesmo. É ser outro Cristo para os outros. Conhecer Jesus também significa interrogar-se sobre Ele e perguntar-se continuamente quem Ele é a fim de chegar à pergunta crucial: Quem é Jesus para mim?

Em nenhum outro Evangelho há um confrontar-se tão contínuo e cerrado com Jesus como no Evangelho de Marcos. Desde o princípio, Jesus é quem chama. Ele quer os discípulos sempre junto a Ele. Por isso, o Evangelho diz que “os chamou para que ficassem com Ele” (Mc 3,13-14).  O apostolado virá depois para continuar sua obra.  Primeiro, há que formar-se.  Ele quer educar longamente os chamados, não como faz um mestre que se limita em dar informação e sim como quem ensina uma forma de viver. Por isso, ler o Evangelho de Marcos sob este aspecto é um contíno descobrimento. 

Além da identidade de Jesus, o autor do Evangelho de Marcos nos apresenta também algumas carcateristicas dos seguidores de Jesus Cristo ou dos cristaos. 

Em primeiro lugar, o cristão é aquele que é chamado a seguir e a conhecer Jesus. O cristão é uma pessoa chamada expressamente por Jesus (Cf. Mc 1,16-20; 2,13-14; 10,17-22). O chamado pode aceitar ou recusar o chamamento. Mas sempre é Jesus quem toma a iniciativa para chamar e para escolher. Esta chamada sempre implica para o chamado o abandono de suas ocupações precedentes e a ruptura dos laços familiares para poder permanecer com Jesus (Cf. Mc 3,13-14). É um chamado paa seguir Jesus nas suas andanças. Jesus chama alguém para ficar vinculado à sua pessoa e para estabelecer com ele uma comunhão de vida. Desta maneira torna possível a compreensão da pessoa de Jesus. 

Em segundo lugar, o cristão é aquele que é chamado para ser pescador de homens. O vínculo com Jesus tem como consequência para o cristão entrar em contato com a multidão para chamar as pessoas a ter fé em Jesus através da conversão (Mc 1,15) e para congregar as pessoas, reunindo-as para uma causa nobre: ajudar os necessitados (Mc 6,34-44; 8,1-8), acolher os marginalizados (Mc 9,36-37), aceitar e apoiar qualquer um que defenda uma causa nobre (Mc 9,38-41) e evitar tudo que possa escandalizar e colocar em perigo a fé dos demais (Mc 9,42).

Em terceiro lugar, o cristão é chamado a uma convivência orientada pela atitude de serviço (Mc 9,33-37; 10,35-45). Todos os seguidores de Jesus forma uma comunidade. E nessa comunidade o serviço é uma atitude especialmente necessária. Cada cristão deve ser servidor do outro. A grande do cristão consiste na capacidade de servir os outros para salvá-los. Consequentemente, no cristão não deve ter a ambição de poder ou de domínio. A autoridade do cristão está no serviço. O próprio model do serviço é Jesus Cristo (Mc 10,45).

Em quarto lugar, o cristão é chamado a uma vida de renúncia e fidelidade sem limite (Mc 8,34). Há dois requisitos necessários para ter uma disposição para seguir Jesus fielmente: a capacidade de renunciar a si mesmo que implica para o cristão enfrentar com força as dificuldades, sacrificando a própria vontade em função da vontade de Deus. Trata-se de não pensar com os homens e sim como Deus (Mc 8,33). O segundo requisito necessário é a capacidade de carregar a sua própria cruz. Seguir fielmente o Senhor implica todas as tribulações e cruzes sem excluir sequer a própria morte. O martírio faz parte do seguimento.

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Conforme o Evangelho de hoje, a primeira tarefa de cada cristão é a de pregar/propagar a Palavra de Deus, principalmente para aqueles que ainda não a escutaram/ viveram. Cada cristão é, então, o mensageiro de Cristo neste mundo. E cada cristão tem que usar todos os meios ao seu alcance para propagar a Palavra de Deus: homilia, catequese, meios de comunicação, literatura, arte, festas e convivência. Mas é o anúncio respeitoso, sem impor, mas convidando; sem ameaçar mas ofertando a salvação que liberta. Jesus nos chama a estar com Ele, a fazer, lendo com calma e em oração Seu Evangelho, a mesma experiência que os primeiros discípulos. Hoje somos nós que temos que viver sua mesma experiência.

A segunda tarefa é a de curar (v.18). O cristão não pode limitar sua preocupação só na salvação da alma, mas do homem todo: corpo e alma. São Tiago diz: “Meus irmãos, de que serve para alguém alegar que tem fé, se não tem obras? ... Suponhamos que um irmão ou irmã andam seminus, sem o sustento diário, e um de vós lhes diz: ide em paz, aquecidos e saciados; mas não lhes dá as necessidades corporais, de que serve? Igualmente a fé que não vem acompanhada de obras:  está totalmente morta” (Tg 2,14-17). Não adianta consolar um faminto com conversa vazia, é preciso dar-lhe uma ajuda concreta: não sendo assim, como pode falar da fé ou da Palavra de Deus.

Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 

O poder de fazer milagres é uma promessa feita à comunidade e não a cada um dos crentes. O Livro dos Atos dos Apóstolos nos fala abundantemente da existência deste dom na primitiva comunidade de Jesus. Mas o que importa não é tanto expulsar demônio, e falar línguas estranhas. Evangelizar é um serviço de libertação, é redimir os cativos e desatar os laços que detém a ascensão do homem. É nisto sim que podemos e devemos ajudar todos os homens. Em segundo lugar, “falarão novas línguas” significa romper as barreiras que impedem os membros de se comunicar e de relacionar-se como irmãos e irmãs e assim farão possível a paz, a fraternidade, o amor mútuo. Finalmente, porque vivem com a vida de Deus, nada lhes causará um dano definitivo e sua presença constituirá sempre uma vitória da vida sobre a morte: “Se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 

O evangelista Marcos fez chegar até nós Jesus Cristo, o Filho de Deus. Chegou nossa vez para que façamos chegar Jesus aos outros, seja pelo testemunho de uma vida de filhos de Deus, seja pelo anúncio, seja pelos bons conselhos aos demais. Em outras palavras, sejamos evangelhos vivos para os outros. “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!”.  Mas para que possamos ser missionários (enviados) temos que estar em companhia de Jesus, primeiramente (cf. Mc 3,14). Não podemos ser missionários sem ser primeiro discípulos do Senhor. Se não, vamos pregar a nós mesmo e não o próprio Jesus. “Quando caminhamos sem a Cruz, edificamos sem a Cruz ou confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor... Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio (Papa Francisco). São Marcos interceda por nós para que sejamos evangelizadores diariamente!

P. Vitus Gustama,svd

24/04/2024-Quartaf Da IV Semana Da Páscoa

A PALAVRA DE DEUS ILUMINA NOSSA VIDA E NOS TORNA MISSIONÁRIOS DO SENHOR

Quarta-Feira da IV Semana da Páscoa

Primeira Leitura: At 12,24-13,5a

Naqueles dias, 24 a Palavra do Senhor crescia e se espalhava cada vez mais. 25 Barnabé e Saulo, tendo concluído seu ministério, voltaram de Jerusalém, trazendo consigo João, chamado Marcos. 13,1 Na Igreja de Antioquia, havia profetas e doutores. Eram eles: Barnabé, Simeão, chamado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado junto com Herodes, e Saulo.  2 Um dia, enquanto celebravam a liturgia, em honra do Senhor, e jejuavam, o Espírito Santo disse: “Separai para mim Barnabé e Saulo, a fim de fazerem o trabalho para o qual eu os chamei”. 3 Então eles jejuaram e rezaram, impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo, e deixaram-nos partir. 4 Enviados pelo Espírito Santo, Barnabé e Saulo desceram a Selêucia e daí navegaram para Chipre. Quando chegaram a Salamina, começaram a anunciar a Palavra de Deus nas sinagogas dos judeus. Eles tinham João como ajudante.

 

Evangelho: Jo 12,44-50

Naquele tempo, 44Jesus exclamou em alta voz: “Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. 45Quem me vê, vê aquele que me enviou. 46Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. 47Se alguém ouvir as minhas palavras e não as observar, eu não o julgo, porque eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo. 48Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz: a palavra que eu falei o julgará no último dia. 49Porque eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. 50Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou”.

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Os Dons São Dados a Cada Um Para Edificar a Comunidade

Na Igreja de Antioquia, havia profetas e doutores. Eram eles: Barnabé, Simeão, chamado o Negro, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado junto com Herodes, e Saulo”. Através da Primeira Leitura ficamos sabendo de que a Igreja fundada em Antioquia tinha profetas e doutores. Desde o princípio as comunidades cristãos estavam bem estruturada, tanto do ponto de vista de dons como do ponto de vista missionário. Há “cargos” e responsabilidades diferentes, determinados, sem dúvida, pelas competências humanas diferentes e por vocações do Espírito Santo diversificadas. A comunidade de Antioquia é muito missionária e aberta, cheia de vida: “A Palavra do Senhor crescia e se espalhava cada vez mais”. Ela é presidida por cinco pessoas “carismáticas”, isto é, aqueles que têm carisma, ou dons especiais que são chamadas de “profetas-doutores”. Estes mesmos títulos ou dons são conferidos para as mesmas pessoas. Todos os dons ou carismas são usados ou vividos para a edificação da comunidade e não para a autopromoção.

Os profetas são cristãos que exortam e fortalecem, anunciam o que é de Deus e denunciam tudo que está contra Deus e contra a dignidade do ser humano, pois Deus está sempre do lado do homem, de qualquer homem. Os profetas têm a capacidade de discernir a vontade de Deus nos acontecimentos concretos da vida humana e da história e logo anunciam a vontade de Deus para o povo.

Os doutores também são cristãos que ensinam (adotados de capacidade para ensinar). Os doutores cristãos têm uma capacidade especial para discernir a vontade de Deus nas Sagradas Escrituras, comentando o AT e o NT para as pessoas. 

Através de seus dons os cinco profetas-doutores edificam a comunidade de Antioquia. Evidentemente, tudo indica que os Cinco profetas-doutores são pessoas cultas e bem formadas e conduzidas pelo Espirito Santo. Não é por acaso que elas foram escolhidas. 

É preciso aprendermos a trabalhar a partir da área de competência de cada um ou a partir dos dons ou talentos para edificar a comunidade. Os dons são dados por Deus para o bem comum e não para a autopromoção. Quanto menos se sabe (sem área de competência), mais palpite se dá, e menos certeza, pois falta a fundamento ou a fundamentação. Quando não levarmos a sério o trabalho na Igreja, de acordo com a competência ou de acordo com os talentos, a Igreja terá nada a oferecer para a humanidade.

As Orações Devem Ter Como Consequência o Apostolado

Um dia, enquanto celebravam a liturgia, em honra do Senhor, e jejuavam, o Espírito Santo disse: ´Separai para mim Barnabé e Saulo, a fim de fazerem o trabalho para o qual eu os chamei´”. Aqui a oração não é somente um momento de pedido (graça/bênção ou perdão), nem apenas um momento de ação de graças (agradecer pelas graças recebidas), mas também é um momento em que Deus quer se revelar. O ato de jejuar é um ato de dar espaço para Deus falar ou se revelar. De fato quando a comunidade estava em oração o Espirito Santo disse: “Separai para mim Barnabé e Saulo, a fim de fazerem o trabalho para o qual eu os chamei”. 

A revelação durante a oração (liturgia) para separar Barnabé e Saulo nos mostra que rezar não é suficiente. Cada oração feita deve ser transformada em missão. A oração sem um apostolado nos mostra que queremos apenas nos aproveitar de Deus. Queremos que Deus nos sirva, mas nós mesmos não queremos servir a Deus através de nossa participação na missão da comunidade a partir de nossos dons. Se nossas orações, se nossos jejuns não tem como fruto um apostolado, significa que na nossa oração e jejum não buscamos o Senhor e sim nós próprios. Assim caímos num romanticismo espiritual e recusamos viver totalmente comprometidos com Cristo e Seu Evangelho. Deus reservou todos nós cristãos para Ele e comunicou-nos seu Espirito Santo e nos envia para que anunciemos Sua Palavra ao mundo.

Quando uma comunidade cristã estiver unida e se deixar animar pelo Espirito de Deus, imitando o exemplo da comunidade de Antioquia, ela se tornará mais fecunda em seu apostolado missionário. A fecunda missionária é o sinal de que a comunidade é guiada pelo Espirito Santo, como era a comunidade de Antioquia.

Jesus e o Pai que O Enviou São Um Só

“Quem crê em mim não é em mim que crê, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou... Porque eu não falei por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, ele é quem me ordenou o que eu devia dizer e falar. Eu sei que o seu mandamento é vida eterna. Portanto, o que eu digo, eu o digo conforme o Pai me falou”. Jesus disse isto em voz alta.  

Com esta afirmação Jesus enfatiza a profundidade de relação entre Ele e o Pai. A união tão íntimo com o Pai faz com que Jesus não pode fazer outra coisa a não ser a vontade de Deus. Anteriormente Jesus disse: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra” (Jo 4,34). Por causa dessa relação de Jesus com o Pai tão intima, unida e profunda é que ter a fé em Jesus, o Filho de Deus, significa ter a fé em Deus Pai. Trata-se de uma só fé e de uma só realidade. Consequentemente, rejeitar Jesus significa rejeitar o próprio Deus. Acolher a Palavra de Jesus que é o Verbo de Deus encarnado (Jo 1,1-3.14) significa acolher a Palavra do Pai. E a acolhida da Palavra de Jesus faz o homem que crê em Jesus passar da morte para a vida, das trevas para a luz, pois a Palavra que Ele nos anuncia não vem d’Ele, mas do Pai, e por isso, leva o homem para Deus, isto é, para a vida eterna, para a salvação.      

A Presença de Jesus No Mundo Como Luz

Eu vim ao mundo como luz, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas”.                  

Na escuridão ninguém consegue ver nada. Não há cores. Não há como medir a distância. A escuridão limita qualquer movimentação. Todos ficam apalpando. Imagine uma mente escura! Nada se vê. É uma desorientação total. Com a mente escura não se sabe para onde vai, por que vive, que senti do tem a vida. é uma vida sem cor nem sabor. A luz torna tudo claro, faz-nos perceber variedade de cores. A luz nos mostra tudo. Mesmo que a luz crie sombra, mas até a sombra também é iluminada. 

A presença de Jesus no mundo tem um objetivo bem claro e preciso: ser Luz para a humanidade encontrada nas trevas do pecado (cf. Jo 8,12). Trata-se de uma presença que salva apesar de o homem ter que encarar a própria verdade do pecado que o faz mergulhar na escuridão, pois Jesus vem como luz que ilumina tudo e por isso, nada se esconde. Mas ao aceitar Jesus como a própria Luz do mundo o homem passa a ser um reflexo para iluminar as pessoas ao seu redor e seu próprio caminho será iluminado. 

Jesus é a Luz que Deus colocou na história da humanidade em geral, e na história de cada um de nós em particular. A Luz do Ressuscitado permite cada um de nós detectar os empecilhos que o egoísmo coloca em seu caminho para desviá-lo do amor e da justiça. A luz de Cristo em cada um de nós denuncia as artimanhas do mal que destrói a vida dos outros. Viver na Luz de Cristo faz cada um de nós viver na transparência e não na aparência, pois a luz de Cristo penetra no nosso ser e tudo se torna transparente e capaz de iluminar as pessoas ao redor. A Luz de Cristo ilumina nossa mente mesmo que nos encontremos no meio das dificuldades, pois tudo será iluminado. A Luz de Cristo em nós faz com que captemos com facilidade as necessidades dos outros. A mente escura só faz confusão. A mente iluminada traz a serenidade e causa uma reflexão mais profunda. A mente iluminada pela Palavra de Deus aponta e indica o caminho de solução para qualquer dificuldade. Uma pessoa iluminada pela Palavra de Deus ilumina qualquer um com sua palavra. 

Optar pela Luz é optar pela vida e pela salvação. Optar pela Luz é optar pela verdade, pois não há nada que seja escondido perante a luz. Optar pela Luz é optar pela transparência e não pelo jogo de esconde-esconde com o intuito de esconder a verdade. Optar pela Luz é optar pela originalidade e não pela falsidade ou artificialidade. Optar pela Luz é optar pelo caminho certo e não inventar caminho com os fins egoístas.  Optar pela Luz é saber discernir os caminhos. Optar pela Luz é saber discernir o que é certo e o que não o é. Optar pela Luz de Cristo é optar pela vida iluminada a fim de iluminar os demais homens. Escutar Jesus é deixar-se guiar pela Luz de Cristo. Se o objetivo da presença de Jesus no mundo é ser Luz para a humanidade, consequentemente cada cristão, seu seguidor, ao contemplar a Luz do mundo (Jo 8,12), deve viver como luz para os outros: iluminar e indicar o caminho da verdade. É contemplar a verdadeira Luz do mundo para ser reflexo da mesma Luz para o mundo em que vivemos. 

Uma Presença Que Separa (Juízo)(

Quem me rejeita e não aceita as minhas palavras já tem o seu juiz: a palavra que falei o julgará no último dia”.

Apesar de Jesus vir ao mundo não para condenar, e sim como uma Luz para a humanidade, mas o evangelho de hoje nos enfatiza que a sua palavra e a sua missão realizam automaticamente um juízo e tornam-se critério último de verdade e de ação. Diante da presença de Jesus como a Luz do mundo e como a Palavra do Pai o homem tem que se posicionar: ou aceitar ou recusar. Trata-se do momento de julgar, isto é, do momento de separação. Deus não separa o homem d’Ele. Mas por causa de sua liberdade o homem é capaz de se separar de Deus. Onde Deus for excluído, entra a agressão, a violência, o assassinato, a exploração, a opressão e assim por diante.

Por isso, o juízo do homem consiste num auto-juízo. O homem, com sua conduta, pronuncia sentença contra si mesmo no momento presente em que ele opta por Jesus e sua palavra ou recusa Jesus e não viver de acordo com Sua Palavra. A decisão se dá aqui e agora entre fé e incredulidade. O que ocorrerá no “último dia” não será mais que a manifestação pública da decisão tomada aqui. Resta a misericórdia divina cuja competência é exclusivamente de Deus para além da morte. Homem nenhum pode penetrar no mistério da misericórdia de Deus, pois “os meus caminhos estão acima dos vossos caminhos e os meus pensamentos acima dos vossos pensamentos”, diz Deus (Is 55,9).

A minha atitude diante de Jesus, e de Sua palavra, realiza o juízo em relação a mim mesmo, agora e no futuro. Na pessoa de Jesus está presente a realidade definitiva. E eu devo confrontar-me, aqui e agora, com essa realidade, porque é o definitivo que avalia o transitório. É hoje que eu decido o meu destino eterno. É hoje que a minha vida está suspensa entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas, entre o tudo e o nada, porque é hoje que me confronto com Jesus e com a sua palavra, e é hoje que tenho de optar. O espaço dado a mim é entre o nascimento e a morte. Além disso, não é minha competência. O momento presente é sumamente importante, porque é o hoje de Deus, que podemos acolher ou rejeitar. Desse acolhimento ou rejeição derivam consequências eternas. Jesus não está nos ameaçando; ele nos estimula para aproveitarmos cada momento para fazer o que é digno para o bem do homem e sua salvação.

P. Vitus Gustama,svd

26/04/2024-Sextaf Da IV Semana Da Páscoa

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